A Imperatriz Dona Tereza Cristina |
Imperador Dom Pedro II |
Em 24 dezembro de 1859 governava a província da Parahyba do
Norte, Ambrósio Leitão da Cunha, formado em ciências jurídicas. Foi ele quem
recebeu o ofício do ministro dos Negócios do Império comunicando que sua Majestade
visitaria a Paraíba, tendo enviado por mensageiro a importância de um conto de
réis para as despesas de hospedagem da comitiva real. Isso desencadeou uma
verdadeira febre em todo o Estado que, pobre como era, tinha de receber, à
altura, tão augustas figuras que dificilmente passariam outra vez por esses
rincões.
Com mais três contos de réis vindos da Corte, o governo
começou a tarefa de preparar a cidade para a chegada real. Mobília, tapetes,
utensílios próprios de um quarto como um urinol em bronze, serviços completos
de almoço e chá da melhor porcelana inglesa, tudo isso começou a ser
providenciado para que suas majestades tivessem uma recepção à altura da coroa
que carregavam.
Datando do século XVIII, o palácio do governo precisou de
reformas e adaptações para se tornar uma morada imperial. Uma grande reforma
era necessária fazer desde a construção de novas alas até substituição de
móveis, colocação de tapetes e uma repintura nas velhas paredes. As despesas se
elevaram a mais de seis contos de réis.
Enfim, ao pino do meio dia navegava sobre as águas do Oceano
Atlântico da Paraíba a esquadra que conduzia a Cote Imperial e à uma hora da
tarde do dia 24 de dezembro de 1859 navega sobre as águas do rio Paraíba, a
esquadra imperial passando em frente ao baluarte norte da majestosa Fortaleza
de Santa Catarina, em Cabedelo, onde foi saudada com uma salva de tiros de canhões.
O Imperador Dom Pedro II, Dona Tereza Cristina, bem como toda
comitiva a bordo do navio APA navegando sobre a embocadura do Rio Paraíba ficaram
impressionados com os paredões da Fortaleza de Santa Catarina. Passando pelo o
estuário do Rio Paraíba admiraram a beleza da Ilha da Restinga denominada pelos
portugueses de Ilha São Domingo e de lá tomou o destino do antigo Porto do
Varadouro. Embarcações nacionais e estrangeiras já atracadas colocaram-se em
linha para saudar com tiros de peças de artilharia a chegada do imperador.
Exatamente às 16h30, desembarcaram do vapor APA Dom Pedro II e Dona Tereza
Cristina, numa galeota ornamentada com finas flores.
O imperador, envergando uniforme de general, foi recebido
pelo presidente da Câmara de Vereadores e por mais de cinquenta senhoras.
Segundo Maurílio de Almeida em seu livro “Presença de Dom Pedro II na Paraíba”,
ali mesmo a mão de sua majestade foi beijada sob os mais frenéticos vivas e
aclamações do povo. Talvez date desse tempo o costume tão popular de beijar as mãos
de poderosos, comum em nossa província.
No dia seguinte, suas majestades quis conhecer a Fortaleza de
Santa Catarina tendo se dirigido até o reduto do Cabedelo onde ficavam as
principais fortificações militares da época. Dom Pedro II embarcou novamente no
APA e tomou destino à cidade costeira acompanhada pelo governador, a quem fazia
sucessivas indagações e tudo anotava numa caderneta de bolso. Essa foi uma das
marcas do viajante de Dom Pedro II que ele conservou até o fim da vida.
Era um grande observador arguto, a tudo inquiria e
perguntava. Em Cabedelo, visitou a Fortaleza de Santa Catarina, conheceu os compartimentos
e fez questão de ler as antigas inscrições de canhões holandeses remanescentes
da invasão à nossa costa de 1634 a 1654, demonstrando perfeito conhecimento da
língua. Nesse momento, deu-se um fato pitoresco: “um velho soldado aproximou-se
do imperador furando o bloqueio ao seu redor e lhe pediu uma ajuda queixando-se
que seu soldo de reformado era insuficiente. O imperador, atendendo ao pedido,
mandou que lhe fosse dado uma régia esmola e ainda mandou que ele requeresse
aumento de sua aposentadoria do seu soldo de reformado que seria atendido”. Assim
o astucioso e corajoso soldado aposentado conseguiu uma melhor aposentadoria.
Desta forma comprova-se o ditado popular: “Quem não chora não mama”.
A história não registrou em quanto orçou essa esmola, mas não
deve ter sido assim tão régia, pois o próprio Imperador, para viajar à Paraíba,
tomou dinheiro emprestado e destinou à sua esposa, para todos os gastos da
viagem, a minguada importância de três mil e seiscentos contos de réis, pagos
em seis prestações. Não existiam as facilidades para as viagens como hoje. Dom
Pedro não limitou sua viagem à capital.
No dia seguinte, o imperador Dom Pedro II, foi a cavalo, com
grande comitiva de aduladores, até a cidade de Pilar que era importante centro
açucareiro. Como a caminhada fosse longa, o imperador fez duas paradas: uma no
Engenho São João, onde tomou o desjejum, e outra no Engenho Marau, de
propriedade dos frades de São Bento, onde deveria almoçar. Ótimo cavaleiro, Dom
Pedro imprimiu tal ritmo à cavalgada que chegou a Pilar antes da hora e
encontrou a Câmara Municipal fechada sem ninguém à sua espera. Todos faziam a
toalete. De Pilar, Dom Pedro foi a Mamanguape, de onde voltou numa só caminhada
a João Pessoa.
Finalmente, no dia 30 de dezembro, o vapor APA levou embora
os imperadores e parte da alegria. Somente uma parte, pois a visita real deixou
na Paraíba vários títulos nobiliárquicos: dois barões, seis comendadores, 21
oficiais e 36 cavaleiros da Rosa, além de 25 cavaleiros da Ordem de Cristo. Uma
boa colheita. DE acordo com os historiadores, da Paraíba o navio APA partiu com
a comitiva Imperial para o arquipélago de Fernando de Noronha onde passaria o réveillon
daquele ano.
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