quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

EM 24 DE DEZEMBRO DE 1859 A PARAHYBA TEVE UM NATAL DE MAJESTADE. SAIBA COMO:


A Imperatriz Dona Tereza Cristina


Imperador Dom Pedro II


Em 24 dezembro de 1859 governava a província da Parahyba do Norte, Ambrósio Leitão da Cunha, formado em ciências jurídicas. Foi ele quem recebeu o ofício do ministro dos Negócios do Império comunicando que sua Majestade visitaria a Paraíba, tendo enviado por mensageiro a importância de um conto de réis para as despesas de hospedagem da comitiva real. Isso desencadeou uma verdadeira febre em todo o Estado que, pobre como era, tinha de receber, à altura, tão augustas figuras que dificilmente passariam outra vez por esses rincões.

Com mais três contos de réis vindos da Corte, o governo começou a tarefa de preparar a cidade para a chegada real. Mobília, tapetes, utensílios próprios de um quarto como um urinol em bronze, serviços completos de almoço e chá da melhor porcelana inglesa, tudo isso começou a ser providenciado para que suas majestades tivessem uma recepção à altura da coroa que carregavam.

Datando do século XVIII, o palácio do governo precisou de reformas e adaptações para se tornar uma morada imperial. Uma grande reforma era necessária fazer desde a construção de novas alas até substituição de móveis, colocação de tapetes e uma repintura nas velhas paredes. As despesas se elevaram a mais de seis contos de réis.

Enfim, ao pino do meio dia navegava sobre as águas do Oceano Atlântico da Paraíba a esquadra que conduzia a Cote Imperial e à uma hora da tarde do dia 24 de dezembro de 1859 navega sobre as águas do rio Paraíba, a esquadra imperial passando em frente ao baluarte norte da majestosa Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, onde foi saudada com uma salva de tiros de canhões.

O Imperador Dom Pedro II, Dona Tereza Cristina, bem como toda comitiva a bordo do navio APA navegando sobre a embocadura do Rio Paraíba ficaram impressionados com os paredões da Fortaleza de Santa Catarina. Passando pelo o estuário do Rio Paraíba admiraram a beleza da Ilha da Restinga denominada pelos portugueses de Ilha São Domingo e de lá tomou o destino do antigo Porto do Varadouro. Embarcações nacionais e estrangeiras já atracadas colocaram-se em linha para saudar com tiros de peças de artilharia a chegada do imperador. Exatamente às 16h30, desembarcaram do vapor APA Dom Pedro II e Dona Tereza Cristina, numa galeota ornamentada com finas flores.

O imperador, envergando uniforme de general, foi recebido pelo presidente da Câmara de Vereadores e por mais de cinquenta senhoras. Segundo Maurílio de Almeida em seu livro “Presença de Dom Pedro II na Paraíba”, ali mesmo a mão de sua majestade foi beijada sob os mais frenéticos vivas e aclamações do povo. Talvez date desse tempo o costume tão popular de beijar as mãos de poderosos, comum em nossa província.

No dia seguinte, suas majestades quis conhecer a Fortaleza de Santa Catarina tendo se dirigido até o reduto do Cabedelo onde ficavam as principais fortificações militares da época. Dom Pedro II embarcou novamente no APA e tomou destino à cidade costeira acompanhada pelo governador, a quem fazia sucessivas indagações e tudo anotava numa caderneta de bolso. Essa foi uma das marcas do viajante de Dom Pedro II que ele conservou até o fim da vida.

Era um grande observador arguto, a tudo inquiria e perguntava. Em Cabedelo, visitou a Fortaleza de Santa Catarina, conheceu os compartimentos e fez questão de ler as antigas inscrições de canhões holandeses remanescentes da invasão à nossa costa de 1634 a 1654, demonstrando perfeito conhecimento da língua. Nesse momento, deu-se um fato pitoresco: “um velho soldado aproximou-se do imperador furando o bloqueio ao seu redor e lhe pediu uma ajuda queixando-se que seu soldo de reformado era insuficiente. O imperador, atendendo ao pedido, mandou que lhe fosse dado uma régia esmola e ainda mandou que ele requeresse aumento de sua aposentadoria do seu soldo de reformado que seria atendido”. Assim o astucioso e corajoso soldado aposentado conseguiu uma melhor aposentadoria. Desta forma comprova-se o ditado popular: “Quem não chora não mama”.

A história não registrou em quanto orçou essa esmola, mas não deve ter sido assim tão régia, pois o próprio Imperador, para viajar à Paraíba, tomou dinheiro emprestado e destinou à sua esposa, para todos os gastos da viagem, a minguada importância de três mil e seiscentos contos de réis, pagos em seis prestações. Não existiam as facilidades para as viagens como hoje. Dom Pedro não limitou sua viagem à capital.

No dia seguinte, o imperador Dom Pedro II, foi a cavalo, com grande comitiva de aduladores, até a cidade de Pilar que era importante centro açucareiro. Como a caminhada fosse longa, o imperador fez duas paradas: uma no Engenho São João, onde tomou o desjejum, e outra no Engenho Marau, de propriedade dos frades de São Bento, onde deveria almoçar. Ótimo cavaleiro, Dom Pedro imprimiu tal ritmo à cavalgada que chegou a Pilar antes da hora e encontrou a Câmara Municipal fechada sem ninguém à sua espera. Todos faziam a toalete. De Pilar, Dom Pedro foi a Mamanguape, de onde voltou numa só caminhada a João Pessoa.


Finalmente, no dia 30 de dezembro, o vapor APA levou embora os imperadores e parte da alegria. Somente uma parte, pois a visita real deixou na Paraíba vários títulos nobiliárquicos: dois barões, seis comendadores, 21 oficiais e 36 cavaleiros da Rosa, além de 25 cavaleiros da Ordem de Cristo. Uma boa colheita. DE acordo com os historiadores, da Paraíba o navio APA partiu com a comitiva Imperial para o arquipélago de Fernando de Noronha onde passaria o réveillon daquele ano.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

BREVE HISTÓRICO DO FANDANGO DA CIDADE DE CANGUARETAMA - RN






É um auto popular de origem ibérica que inspira-se nas grandes aventuras marítimas dos portugueses, disseminado em todo o Brasil. Sua denominação varia de uma região para outra, pois no Nordeste e Norte é conhecida como Nau Catarineta,  a Barca, Fandango. Já no Sul e Leste é denominado Marujada. Fandango no Sul também é dança de pares, sem representação dramática. Em Portugal não há apresentação semelhante, ainda que uma boa parte das cenas seja de origem portuguesa, das narrativas marítimas. No Brasil surgiu no século XVIII, e no Rio Grande do Norte no início do século XIX.

O grupo é formado por uma tripulação de aproximadamente quarenta marujos, entre oficiais e marinheiros. O enredo principal desenvolve-se em torno da velha “Nau Catarineta”, que é atacada por uma tempestade e vaga durante sete anos e um dia.

Perdido e sem comida, a tripulação passa a comer sola de sapatos e, através de um sorteio, o comandante do navio é escolhido para ser transformado em alimento para os famintos. Durante o momento da aflição acontece um milagre e a tripulação avista terra.

Segundo informações de José Colaço a Antônio Lima, o Fandango de Canguaretama apareceu por volta de 1885, trazido do Pará, por “Seu Tota”, morador da “Gameleira”. Por volta de 1910, foram introduzidas outras “partes” (músicas) trazidas da Paraíba. Anteriormente existia um Fandango em Vila Flor, mas esse acabou, surgindo o de Canguaretama.

O grupo de Canguaretama é formado por uma tripulação de aproximadamente quarenta marujos, entre oficiais e marinheiros. Os personagens se distribuem em duas filas e são os seguintes: Capitão de Fragata, Mestre, Gajeiro, Ração e os Marujos na fila da direita; Piloto, Contramestre, Calafate e Vassoura e os marujos na fila da esquerda. Apenas o Capitão de Mar e Guerra fica no centro e por traz de todos. A apresentação se faz com uma barca, a Nau Catarineta. O enredo principal desenvolve-se em torno da “Nau”, que é atacada por uma tempestade e vaga durante sete anos e um dia. Perdido e sem comida, a tripulação passa a comer sola de sapatos e, através de um sorteio, o comandante do navio é escolhido para ser transformado em alimento para os famintos. Durante o momento da aflição acontece um milagre e a tripulação avista terra.

O Fandango era representado no período do ciclo natalino com seus personagens vestidos de marinheiros, cantando e dançando ao som dos instrumentos de cordas, não fazendo uso de instrumentos de percussão nem de sopro.

No grupo de Canguaretama, a princípio eram usados apenas o violão e o cavaquinho, sendo introduzido o banjo em 1953, tocado por Paichicu. A primeira apresentação se dava sempre na Festa de Nossa Senhora da Conceição que acontece no município de Canguaretama há mais de 120 anos. Este ano a festa da padroeira aconteceu de 30 de novembro a 8 de dezembro com animação da cidade que se estenderá até a Festa de Santos Reis. No passado esta festa era organizada por Manoel Francisco de Andrade que foi o mestre do Fandango até a primeira metade do século XX, passando para seu filho, Antônio Andrade (Lima). Nos últimos anos do século XX a organização ficou a cargo de Zé de Ná mestre e o contramestre Klebinho Pinheiro, responsáveis pela organização do Fandango de Canguaretama que desde 1971, ambos participam com a embarcação da Nau Catarineta conduzindo a imagem de Nossa Senhora da Conceição pelas principais ruas da cidade.