A
Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória realizou na tarde do
dia 13 de agosto do corrente ano, no Palácio da Redenção, mais uma reunião, na
qual ficou decidida a realização de uma audiência pública, em conjunto com a
Comissão Estadual da Verdade de Pernambuco, sobre a morte de Luiz Alberto de Sá Benevides, paraibano
que morreu misteriosamente em Pernambuco. Além disso, haverá ainda uma sessão
especial na Assembleia Legislativa sobre o atentado no Cine-teatro Apollo 11,
em Cajazeiras, no ano de 1975.
Comissão Estadual da Verdade, Preservação e da Memória. |
De
acordo com a coordenadora dos grupos de trabalho da Estrutura de Repressão e
Perseguição ao Setor Educacional, professora Lúcia Guerra, a iniciativa de
audiência conjunta facilita o trabalho das comissões para a revelação de crimes
ignorados. “O paraibano Luiz Alberto de
Sá Benevides morreu em um acidente de carro, ao lado da esposa grávida, de
maneira misteriosa, quando se deslocava no interior de Pernambuco. Quando os
familiares chegaram a cidade onde foi enterrado, simplesmente não encontraram
os corpos para a remoção. Inclusive, o carro utilizado pelo casal era
emprestado e o dono do veículo também foi perseguido e foi morto sob tortura.
Tudo isso leva a crer que este acidente não foi por acaso e até hoje não temos
prova se foi à repressão do Estado, na época da Ditadura Militar”, explicou.
Professora Lúcia Guerra |
Bancário,
estudante e militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Luiz Alberto Andrade de Sá Benevides
atuava principalmente no estado de Pernambuco e com bastante destaque em nível
nacional. No Dossiê de Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil, o paraibano
consta como morto ou desaparecido no dia 8 de março de 1972, de maneira
clandestina, próximo ao município de Caruaru (PE).
Como
depoentes que confirmaram a presença para a audiência pública no final do mês
de agosto, estão à irmã do paraibano, Sônia
Sá Benevides, ainda viva e residente no Rio de Janeiro; o companheiro do
PCBR na Paraíba, Antônio Soares, mais conhecido por “Help” e Ramayana Vaz, da Bahia.
Lei de Anistia – Entre outros temas, foi abordado na reunião o fechamento da programação
da Semana da Lei da Anistia. “A lei é comemorada no dia 28 de agosto e precisa
ser revista, pois ela é de 1979, criada em uma conjuntura que ainda era da
ditadura. Sabemos que muitos não querem que isso aconteça, mas os familiares de
mortos e desaparecidos querem muito uma revisão”, disse a professora Lúcia
Guerra. Em parceria com o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) e o
Comitê da Memória da Justiça da Paraíba, a Comissão Estadual da Verdade planeja
uma série de atividades.
Na
reunião, também foi divulgada uma sessão especial que deverá ser realizada na
Assembleia Legislativa da Paraíba, em meados de setembro, sobre as causas do
atentado a bomba no Cine-teatro Apollo 11, em Cajazeiras, no ano de 1975.
“Segundo a história, a bomba colocada embaixo da cadeira no cine seria para
matar o bispo da época. Adorador de filmes, justamente neste dia, ele se
ausentou para adquirir novas edições e quem sentou na cadeira que ele usava
habitualmente foi o soldado Altinho, mais conhecido por Didi. Na explosão, mais
duas pessoas saíram feridas: Geraldo Galvão e Geraldo Justino, que adquiriram
graves problemas de saúde”, informou Irene Marinheiro, coordenadora dos grupos
de trabalho da Ditadura e Gênero e da Bomba estourada no cine.
Na
ocasião, irão depor as duas vítimas sobreviventes do ataque e a viúva do
soldado Didi, conhecida por Francisca, que reside atualmente na cidade de
Campina Grande. “Já realizamos três audiências públicas nos municípios de João
Pessoa, Campina Grande e Sapé e nosso objetivo é realizar novos encontros como
estes, pois os resultados são sempre surpreendentes e conseguimos coisas
inacreditáveis”, revelou Irene.
A
Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória, instalada no dia 11
de março deste ano, se reúne quinzenalmente. A Comissão foi criada pelo
governador Ricardo Coutinho por meio do Decreto nº 33.426/12 e tem a missão de
investigar crimes de violação dos direitos humanos praticados por agentes
públicos contra paraibanos, durante o período da ditadura militar.
Professora Irene Marinheiro. |
Grupos de trabalho – A Comissão Estadual da Verdade conta com a colaboração das
atividades permanentes de dez grupos de trabalho, são eles: mortos e
desaparecidos, mapa da tortura, a bomba estourada no cine, cassação de mandatos,
demissão de servidores, ditadura e gênero, estrutura de repressão, intervenção
nos sindicatos, perseguição ao setor educacional e repressão aos camponeses.
Diversos voluntários também colaboram com as pesquisas desenvolvidas pelos
grupos.
Integrantes – A Comissão Estadual da Verdade
e da Preservação da Memória é constituída por sete membros: Paulo Giovani
Antonio Nunes (presidente); João Manoel de Carvalho; Irene Marinheiro; Lúcia
Guerra de Fátima Ferreira; Iranice Gonçalves Muniz; Fábio Fernando Barbosa de
Freitas e Waldir Porfírio. Nomeados pelo governador Ricardo Coutinho, os
integrantes têm mandato de dois anos.
Palácio do Governo do Estado da Paraíba, Terça-feira,
13 de agosto de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário